domingo, 21 de setembro de 2008


Quanto mais eu penso menos me sobra espaço na cabeça. Será possível encher um tanque de tal forma a esgotá-lo? Quanto mais como menos faço digestão. Quanto mais bebo menos mijo. Quanto mais escovo mais tártaro. Quanto mais gordo menos emagreço. Quanto mais corro mais longe fica. Meu armário está cheio de cabides com roupas apertadas. Sufocantes fones de ouvido. Estou perdido. Perdidamente perdido. Lutando contra mim, contra o cansaço da preguiça. Contra a vontade do desejo, contra a contradição. Contrário e inconformado, destruído e desabado. Pó. Resta-me o pó? Nem isso me sacia, nem o fumo, nem a carne. Falta-me inspiração, falta explodir, vomitar, mergulhar, falta vida. Que sai da boca e vaza pelos poros, pelos olhos, vida que quanto mais se dá mais se tem. Falta cinza. Falta silêncio. Falta vazio.