quarta-feira, 27 de abril de 2011

Talvez


Hoje o céu estava escuro quando acordei. Não havia barulho nenhum e o quarto escuro vazio. Podia sentir todos os meus membros latejando. Uma angústia, um verdadeiro nó no estômago. Tantas vezes já acordei assim. Tantas vezes já escrevi isso. Ainda não me acostumei com essa sensação. Minha mente ainda grita de solidão e não se conforma em ficar calada. Ansiedade. Talvez seja só a ansiedade, mas não se sabe a razão. Não me lembro nem quando começou. Um ano, dois, talvez a vida inteira. Na esperança que um dia se esgote, se esvaia, se ocupe com algo um pouco mais prazeroso a cabeça. Mesmo existindo um prazer viciante a ansiedade busca em si seu próprio fim. Talvez não exista um fim para algo sem começo. Uma condição. Que mesmo sabendo-se eterna não alivia. Fumo. Até quando puder. Depois vem outro vício, outra paixão, outra ansiedade. Tomara um pouco mais embasada nos problemas humanitários ou globalizados. Essa ansiedade preguiçosa e sem sentido. Essa saudade de um futuro inalcansável e desconhecido. Buraco negro. Falta poesia nesse texto. Devo ir a Paris. Falta força de vontade. Buraco negro sem horizontes. Falta forma, falta céu, faltam nuvens nessa cidade. As resoluções humanas são sempre tão pobres. Trago mais uma vez, nem a fumaça desse cigarro faz desenhos interessantes. Amanheceu. As primeiras janelas começam a se abrir mas não é possível se ver o céu. Buraco negro de edifícios. Abarrotados de ansiedades preguiçosas, fugitivos da conciência, sozinhos por opção e prisoneiros de suas escolhas erradas. Mas só existem escolhas erradas. Só se escolhe quando não há alternativa. Só se escreve quando não basta dizer. Só lê quando não se escuta.