quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
o tempo está passando e nossas coisas ainda nem foram deixadas para trás.
ao ser possível prever o futuro, não seria o acaso pungente, tão pouco o destino relapso, capazes de enfrentar tal dor, a da sabedoria. Dilatando-se e comprimindo-se o tempo faz-se ora azul, ora amarelo. Cores vibrantes de uma atmosfera vil que é o Presente. Elo frágil e volátil entre nós e o tempo. O tempo só tem espaço no presente, só é medido no presente, só existe no presente. O que já foi não existe mais, e o que virá ainda não existiu. Nada existe senão o presente. É nele que tudo pode ser feito. E para ser um pouco mais claro, o tempo não passa.
Era uma vez um garoto que não via o tempo passar. Ele não tinha idade nem tamanho, não era nem velho nem novo, e tudo lhe parecia para sempre estar. Ele não tomava sol muito menos dormia, para ele tudo não passava de eterna calmaria. O garoto sabia de muita coisa e sabia que não sabia de nada também. Tinha uma cabeça enorme, olhos fundos e claros, pele seca e puro osso. Era feio e também disso sabia. E sorria, sorria como ninguém. Como sorriem aqueles a que nada temem ou conhecem, ou aqueles a que tudo conhecem e são temidos.
p.s. das negativas a imaginação só consegue tirar ações.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Lhe carrego dentro de mim, lembrança. A cada trago, cada gole, lhe vejo voltar e abrir aquela porta, esperança. Teu gosto, teu cheiro, me inebriam, ânsia. Meias palavras, fracas, imprecizas, distância. Felicidades, desilusões, infância.
Lhe sinto na pele, no peito, agonia. Lhe culpo, engano, solidão. Cerro meus olhos, meus lábios, orgulho. Vomito sobre meu próprio reflexo, desprezo. Moléstia, flagelo, sofreguidão.
Lhe conheço melhor que a mim mesmo, importância. Prevejo pensamentos, pressinto atitudes, inconstância. Jogo teu jogo, minhas regras, incoerência. Conquisto teu espaço, teu tempo, indecência. Analiso meus passos, meus avanços, ciência. Minto. E levo comigo tua alma de forma mais vulgar, cênica.
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