segunda-feira, 29 de agosto de 2011

siga-me


Sorrindo, teus olhos buscam os meus, sorrindo, meus olhos fogem dos teus, sorrindo.


Vira a esquina de um país e me leva, já não quero parar. O pensamento nem faz mais por onde, só quer descansar do teu lado. Quer se juntar ao teu braço, teu lábio, teu olhar. Não se desfaz do interesse mesmo na distância. Quanto tempo ainda resta para arrumar a casa? Vou precisar de beliches no quarto. Comprar uma agenda telefônica nova. Esquecer os chinelos. Roupas leves mesmo para o frio. Mudar as músicas do mp3. Aproveitei mais do que podia a estadia. A permuta não paga nem o aluguel, mas o tempo amadurece até os problemas mais bobos. Incendeia essas caixas com antigas lembranças. Já não me importa a memória. Confuso? Quanto mais confuso mais admirável.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Frente fria

Joana é casada há vinte anos com Eduardo. Sua arritmia dia sim dia não. Malha toda terça e quinta, yoga as vezes de segunda porque gosta do professor. Ainda tem vergonha das próprias estrias. Espera que sua vida não seja medíocre. Não teve filhos ou fortuna até agora, nem completou a faculdade de história. Adora ler romances e policiais. Chegou a trabalhar como caixa em uma loja de artigos femininos antes de casar. Juntava dinheiro para viajar pelo brasil mas conheceu Eduardo na agência de viagens em que ele trabalhava na época. Ele havia viajado o mundo, ou pelo menos a américa do sul, e queria alguém para sossegar e levar uma vida tranquila no interior. Tem poucas amizades. Não suporta sertanejo. Nunca escuta os conselhos de Odete, funcionaria do cabeleireiro onde sempre faz as unhas, e não as deixa de fazer toda quinzena. Já descoloriu o cabelo mas não durou um dia sequer. "Muito chamativo", pensava. Teve vontade de fazer uma tatuagem mas nunca teve coragem. "Muito permanente". Assiste a novela das nove, mas detesta Fastão. "Muito chato". Também não gosta muito do cachorro que Eduardo comprou de presente para si mesmo no último natal. "Muito ... poodle". Quando criança cantava no coral da igreja. Não quis seguir carreira como sua mãe sempre sonhou. Sempre teve dificuldades para decorar as letras das músicas. Sua mãe morreu há dois anos, cirrose hepática. Depois da separação seus pais adquiriram, ambos, o vício da bebida, e com a morte da mãe seu pai parou de beber. Quer trazer seu pai para o interior. " Longe de sua mãe, nunca!". Ele visita seu túmulo toda sexta-feira. Joana gosta muito de cozinhar. Tem fama entre os amigos do marido. "se deu bem, Eduardo, cozinha que é uma beleza". Finge não ouvir o restante das conversas. "e como ela é na cama?" seguido das risadas altas e respingos de cerveja. Casou ainda virgem, nunca traiu, faz tudo que seu marido pede, nunca exigiu nada estravagante a não ser a fantasia de indiana jones que Eduardo nunca concordou em usar. "Muito apertado". Joana não liga para comodidade, prefere acreditar que o sacrifício na vida será recompensado quando Deus quiser. Por isso continua a viver feliz.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

wifi


Intermédio restrito de pequenos espaços comuns livres de taxas e imposições. Restrições ilimitadas. Procura-se desesperadamente conexões primárias, contatos imediátos em funtamentais instâncias. Primitivas instâncias de primatas com seus inúteis opositores. A oposição faz-se desde início da raça humana. Do contrário ao reverso. Do instinto ao filosófico. Do sentido ao sentimento. Da morte a lenda. O culto secreto dos que esperam na consciência científica o desprezo ao inevitável. Somos inevitáveis. Um dom. Sorte. Toda fortuna que não nos faz mais nem menos valorosos. O dessentido de ser humano. A reflexão impossível dos sapiens sapiens. E a conclusão da ignorância pelos mesmos. Ciclos eternos e efêmeros. Opa conectou afinal, youtube enfim.