segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Labuta


    Era sábado, ou talvez mais tarde. No calor do momento desistiu de dormir. Passeava pelas vielas da memória e a pé mesmo ia voltando pra casa. Quantos drinks... o dinheiro agora bem pouco mas as moedas passam do bolso pras mãos suplicantes. As pernas vibram descendo a ladeira já prevendo a íngreme sequência mais adiante. Enquanto delicadas gotas umedecem a fronte, o fôlego acelera na esperança ingênua de chegar antes da tormenta. E lembra das teclas. é sempre para elas que voltas, casa. Lembra das coragens que tomou para enfrentá-las. Pois, certo que o dia começara tarde mas estava longe de terminar. Duas quadras mais e me lanço. A água nos calcanhares.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

E por pouco tempo fez-se silêncio. Se preparava para fazer predições sobre o futuro próximo. Não tão próximo assim mas o suficiente para gerar ansiedade. No turbilhão das passagens ele se aquieta entre os caminhos. Descansa a própria leveza e de pronto... !!!
Atravessa a alma com a correnteza das marés.
Sopra, uiva, corta, pulsa. A alma dança e se esquece das linhas retas ou curvas e se atenta finalmente ao desenho. E agradece.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019


Um achado. De quantas formas poderia encontrar-te ao meu redor? Com quantos olhos? Os meus olhos. Para ver-te mais próxima.
Um toque de brilho e sua expressão se fecha. Mais que rapidamente se faz outra. E se alegra.
Tantos caminhos... e tu? aí a seguir meus passos, pisando em cada pegada sem deixar rastro? Ou seria eu mesmo que te sigo. Já com tamanha naturalidade que me sinto a frente, no comando...
O que levo em minhas costas porém, aí digo, que é meu. E carrego tudo o que quis pela vida. Tudo de uma vez. E sem me deixar abalar por qualquer esperança. E como um estandarte e farol estás e aquí. Atravesso a mata mas nunca seus limites.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Das cinzas

 E de uma vez por todas ele se levanta. Não toma o café nem se olha no espelho. Já sabe cada passo que dará no dia. A certeza de que nada será como antes. Suas mãos buscam as notas e letras com firmeza e se põe a escrever como um fluxo torrencial de vida. Um brilho fractal em seus olhos. Em seus lábios o sabor colorido da meia estação. As notícias seguem ruins mas a força que o motiva vai além da superfície da rede. Um emaranhado de pensamentos se desatam e transformam o tédio em uma paisagem sem igual, sem precedentes. Corredeiras de sentimentos e ideias.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

avalanche

Soterrado um coração. O gelo anestesia o corpo imóvel. Preserva a expressão pasma do atropelo que você causou. Mesmo um tanto assustado é possível ver a satisfação estampada no rosto frio. Um meio sorriso, quase lágrima e o peito aberto. Eu mesmo provocador e vítima. Gritava por você e você se deixou cair sobre mim com toda força e velocidade. De cabeça e sem piedade, me arrastando por milhas até se deter e me prender por inteiro.
Agora só nos resta derreter, juntos, num intenso rio ora calmo ora agressivo até desaguar num lago furtacor espelhado.
Se fundir com o próprio ser e evaporar aos poucos até te levar ao céu.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Descansaço

Prolixo vertiginoso destino de pedras bambas e desencaixadas estruturas inacreditáveis. Águas violentas de um gélido pavoroso desencontro divino humano. Línguas ambíguas por estranhos desavisados separados e distantes mares. Exóticos animais deslumbrados pelas rochas caídas do céu. Olhos destraídos traídos pelo ciúme e inveja da eternidade sublime das nuvens. A mata desbravada pelo Astro incandecente arredio entre as avalanches suplicantes de misericórdia. O universo grita e gira em espirais desconcertantes descontroladas desmedidas desprendidas desapercebidas. Desponta a ponta desse véu que cobre e descobre a paisagem paradisíaca do interior da mente do homem. Desarma o espírito, destrói a alma, descreve o inconciente e descança a razão.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Senta nessa cadeira vazia a minha frente e conta tua vida. Não precisa dizer nada. São teus olhos que dizem por você, sua testa, teu cabelo falho e teu sorriso discreto. Pede um café ou um suco, fique a vontade. Aquieta suas mãos num cigarro mentolado. Brinca com a fumaça sem pressa. Bebe devagar, goles pequenos, sente os aromas e texturas. Esquece a sua vida por esse instante e escuta o ambiente, escuta além do entorno e percebe os sons da rua lá fora, o som das crianças saindo da escola, a música tocando na igreja, a cidade chegando em casa, o sol atingindo o horizonte, as estrelas por trás das nuvens, queimando. O som do universo se expandindo e contraindo como uma casa velha de madeira. O ranger dos planetas colidindo com asteróides e a névoa dançando pelo espaço. Feche seus olhos para acordar para a vida, cubra seus ouvidos para escutar seu próprio coração que bate no ritmo desse lugar chamado vida.